#16 A Saúde Mental está presente na sua rotina de trabalho?
Edição especial com o médico Mario Minor Murakami Junior
Olá, aqui é a Ana.
Mais uma terça-feira chegou e como sempre, aqui estou eu na sua caixa de entrada ✉️
E venho com mais uma das nossas edições super especiais, dessa vez com o médico e Líder Estudar, Mario Minor Murakami Junior.
Mas, antes de eu deixar ele mesmo se apresentar para vocês, não esqueça de deixar sua sugestão de temas que quer ver por aqui neste formulário 😉
GIF: Reprodução/GIPHY
Hoje vamos falar sobre um tema de extrema importância no ambiente de trabalho: Saúde Mental. Então, sem mais delongas, o espaço é seu Mario!
Mario Minor Murakami Junior é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, é pós-doutorando em Neuroimagem e Connectome pela Harvard Medical School.
A SAÚDE MENTAL ESTÁ PRESENTE NA ROTINA DO TRABALHO?
Ao me pedirem para escrever esse texto, fui imediatamente transportado para uma memória desagradável que marcou minha vida. Recordo-me de um dia após um plantão noturno, quando, num passeio sombrio rumo a casa, parei numa cafeteria para tomar um suco e comer um lanche, como fazia de costume. Meu semblante refletia a tensão de uma noite frenética de trabalho na sala de emergência, durante o auge do COVID-19 em 2021.
Ao final, observei que duplicaram a cobrança de um item na conta. Exausto e irritado, descarreguei minha frustração na atendente que, surpresa, chamou um colega mais experiente para resolver o erro e acalmar o insensato cliente. Enquanto ela me encarava horrorizada, tomei consciência de que estava vivenciando um surto de ansiedade intensificado por uma explosão de raiva, que, claramente, não se devia ao erro quase trivial da atendente iniciante no turno da manhã.
Talvez fosse o efeito residual de um paciente insolente, ou a amargura de uma vida que poderia ter sido salva se houvesse um programa de vacinação. Talvez fosse o cansaço de apenas 1,5 horas de sono na noite anterior, devido ao turno dividido com um colega que faltou. Contudo, a terapeuta que procurei no dia seguinte teceu uma conclusão mais abrangente: estava enfrentando um acúmulo de todas essas tensões e de inúmeras experiências traumáticas vividas ao longo do ano de pandemia como médico de plantão. Sendo alguém de natureza serena e ponderada, fiquei abismado ao me ver consumido por tal fúria e instabilidade emocional. Este episódio marcava o início da minha batalha de seis meses contra a exaustão profissional, o meu burnout de 2021.
Portanto, quando me questionaram se a saúde mental é uma parte integrante da rotina de trabalho, a minha resposta é um retumbante 'sim'. Talvez, essa seja a consideração mais crucial ao aceitar uma oferta de emprego ou ao escolher uma carreira. O estresse, a ansiedade e o esgotamento não são apenas chavões contemporâneos
MAS O QUE EXATAMENTE É SAÚDE MENTAL?
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a saúde mental é “um estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza suas habilidades, consegue lidar com as normais tensões da vida, trabalha de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir com a sua comunidade".
Pode parecer simples à primeira vista, mas a realidade frequentemente prova ser mais complexa. Envolvidos em prazos apertados, extensas horas de trabalho, expectativas elevadas e metas desafiadoras, pode ser extremamente fácil perder de vista o tão almejado equilíbrio. Mesmo que desejássemos crer no oposto, não fomos concebidos para manter níveis incessantes de produtividade e, se forçarmos além do razoável, talvez acabemos descontando nossas frustrações em figuras inocentes, como a atendente da cafeteria na esquina do trabalho.
Retrocedamos um passo para examinar com maior profundidade o que realmente implica o impacto da saúde mental no ambiente de trabalho.
Conforme aponta a American Psychological Association, o estresse ocupacional pode desencadear uma variedade de problemas imediatos, que vão desde dores de cabeça, alterações de sono e humor, até desconfortos estomacais, descontentamento no trabalho e moral em baixa.
A manifestação desse estresse pode estender-se para aspectos como dificuldade de concentração, absenteísmo recorrente, alta rotatividade de pessoal, e até a emergência de condições crônicas, como urgência hipertensiva ou desencadeamento de depressão crônica e transtorno de ansiedade crônica. Um estudo de 2022 do American Institute of Stress indicou que 83% dos trabalhadores nos EUA experienciaram estresse correlacionado ao trabalho.
Essa realidade apresenta um ônus financeiro relevante para os empregadores, uma vez que problemas de saúde mental são responsáveis por prejuízos anuais estimados em até $300 bilhões às corporações estadunidenses, refletidos em despesas de saúde para os colaboradores e faltas ao trabalho. Um levantamento da Organização Mundial da Saúde revelou que, para cada dólar investido no tratamento de transtornos mentais comuns, há um retorno de quatro dólares em benefícios para a saúde e aumento da produtividade.
Esse cenário alarmante ressalta a necessidade de um gerenciamento eficiente do estresse, transformando a saúde mental em uma questão primordial no ambiente de trabalho. Os empregadores estão gradativamente reconhecendo a importância crucial da saúde mental de seus funcionários, com muitas empresas adotando programas de bem-estar, implementando horários de trabalho flexíveis e até estabelecendo dias voltados para a promoção da saúde mental. Segundo uma pesquisa do National Business Group on Health, mais da metade das empresas pesquisadas já oferecem programas de bem-estar ou de promoção da saúde. Entretanto, há ainda um vasto terreno a ser percorrido. Porque, vamos ser realistas, aquela dinâmica de grupo promovida pelo RH através do Zoom dificilmente irá aliviar a tensão de entregar um relatório complexo para o chefe.
MAS O QUE DE FATO DEVE SER FEITO DIANTE DESSE PROBLEMA?
Prevenir é a maior aliada de qualquer acometimento físico ou mental.
E para isso, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é uma solução tangível. Em sua essência, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é a harmonia entre as responsabilidades de trabalho e as experiências pessoais, de modo que uma não ofusque a outra. É ter flexibilidade para desempenhar o trabalho que você ama sem sacrificar sua saúde ou seu tempo pessoal. A tecnologia embaçou as linhas entre o trabalho e o tempo pessoal, tornando ainda mais crucial para nós estabelecer limites claros.
Aquele e-mail às 21:00 ou aquela mensagem de WhatsApp cobrando uma tarefa no sábado pode ser mais danoso do que se imagina. Recomendo os livros "Gerenciando a Si Mesmo" e "Inteligência Emocional" da Harvard Business Review como guias nessa jornada.
Outra forma de prevenção é a terapia cognitivo-comportamental (TCC) com um psicólogo de sua confiança. A TCC é um tratamento baseado em evidências que pode ajudar a identificar e mudar padrões de pensamento e comportamento que estão contribuindo para o estresse e a ansiedade. Isso não só proporciona um aumento na produtividade, como também oferece uma perspectiva diferenciada sobre a sua própria vida.
O atendimento psicoterápico é um investimento precioso, cujo retorno é o desenvolvimento pessoal e profissional. Através da terapia, você pode ganhar uma compreensão mais profunda de si mesmo, de seus objetivos e valores, e aprender técnicas eficazes para lidar com as adversidades da vida. A TCC em particular é uma abordagem bastante eficaz que pode ajudá-lo a desafiar os pensamentos negativos, melhorar a autoestima, promover uma mentalidade de crescimento e previnir o acúmulo de estresse que possa afetar as interações com os atendentes da cafeteria local próxima ao seu ambiente de trabalho.
Como palavras finais, é vital enfatizar que a saúde mental é tão essencial quanto a saúde física, e é imperativo que a tratemos com igual importância e atenção. Lembre-se, não existe nenhuma falha em fazer uma pausa quando necessário, em dialogar sobre a saúde mental com o seu superior no trabalho ou em buscar ajuda. Inclusive, se você experimenta sintomas como alterações no padrão do sono (aumento da sonolência ou insônia), sensações de tristeza sem razão aparente, dificuldade em encontrar prazer em atividades que antes eram gratificantes, cansaço excessivo em tarefas cotidianas, sentimentos de culpa ou inutilidade, ou alterações inesperadas no apetite, principalmente como forma de compensar sentimentos compulsivos, é crucial que você procure orientação médica, seja com o médico de família ou um psiquiatra.
Porque no final das contas, apesar de vivermos na era do AI, somos apenas humanos.
GIF: Reprodução/GIPHY
💻 Você sabe dizer com exatidão se alcançou o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho? Encontrar essa resposta é a proposta do site Skal.es, no qual o usuário descreve suas tarefas e a frequência delas em horas e dias. Ao fim do rápido processo, o site determina uma nota que vai de 0 a 100, e te conta quantas horas livres, em média, você costuma ter por semana.
📚 Sabemos que muitas vezes é difícil entender e nomear o que sentimos. Mas, esse processo é essencial para que você conheça seus limites e aprenda a lidar com seus sentimentos. Se você não sabe por onde e nem como começar, inscreva-se no Curso de Inteligência Emocional da Escola de Liderança, que te ensinaremos técnicas e ferramentas para te ajudar.
▶️ Você sabe o que é a Síndrome de Burnout? O Dr. Drauzio Varella explicou mais sobre a doença no seu canal do Youtube. Aperta o play!
E assim, finalizamos a 16ª edição da nossa newsletter!
Gostou de mais essa edição especial com um convidado? Espero que sim!
Então, não esqueça de deixar sua avaliação para sabermos o que você achou, ok?
Te vejo na próxima terça-feira.
Um abraço da Ana.